Waterfall vs ágil: Como o FBI foi parar no meio dessa batalha?

2 outubro, 2020 7 min de leitura Autor: Suelen Hofrimann

Waterfall vs ágil

  Waterfall e ágil são metodologias de gerenciamento de projetos que surgiram na área de desenvolvimento de software. Até aí tudo bem! Mas o que será que o FBI tem a ver com isso? Mais adiante você vai entender, deixa só eu te dar um panorama geral do cenário que estamos falando, caso você não saiba:

O que é waterfall?

 O Waterfall é um modelo tradicional de gerenciamento de projetos da área de desenvolvimento de software. Antes de existir o ágil a maioria dos projetos seguia essa abordagem “em cascata”. O Waterfall é linear, os requisitos dos projetos são levantados antes do desenvolvimento do produto. Esses requisitos envolvem documentações e análises pesadas dos problemas e necessidades dos clientes.

 A principal característica do waterfall é que o processo de desenvolvimento é sequencial, assim uma fase só começa depois que a anterior termina. Com isso, testes e correções são realizados nas últimas etapas, o que muitas vezes retarda a detecção de problemas.

E Agile, o que é?

 O agile, por sua vez, é considerado uma filosofia, uma forma diferente de pensar e agir que, apesar de ter surgido no mundo do desenvolvimento de software, hoje pode ser implementado em outros tipos de projetos também.

 Em lugares como Estados Unidos, por exemplo, o ágil é frequentemente confundido com o Scrum, como se fossem a mesma coisa, mas na verdade o Scrum é um framework do Agile, assim como tantos outros – Kanban, XP, Lean e outros. 

 O ágil nasceu como uma alternativa ao modelo tradicional, baseado em princípios e valores que fazem os projetos serem mais interativos, com abordagens incrementais, sem hierarquia e com possibilidade de adaptação dos requisitos no meio do caminho.

 Nas abordagens ágeis, o cliente é envolvido em todas as fases do projeto, testes são realizados a cada etapa e erros são corrigidos ainda no processo de desenvolvimento. Os resultados já começam a surgir nas primeiras semanas, pois as entregas são fracionadas, assim não é necessário esperar a solução ficar completamente pronta para colocá-la para funcionar.

Você pode ler mais sobre ágil nesse outro artigo do nosso blog: Entenda o que é metodologia ágil, quais os principais tipos e por que você deveria implementar na sua empresa!

Agora sim, o que o FBI tem a ver com tudo isso?

 Por volta dos anos 2000, o FBI começou um projeto ambicioso de modernização do seu sistema de informação. O projeto viabilizaria a digitalização e o gerenciamento dos arquivos de casos das investigações da agência. 

 O primeiro projeto se chamava Virtual Case File (VCF) e contava com um orçamento de R$ 170 milhões de dólares. A abordagem utilizada era o modelo tradicional de gerenciamento de software, o Waterfall e, após 5 anos de trabalho, a equipe responsável simplesmente teve que suspender o projeto sem nada para apresentar.

 Mas não pára por aí, uma segunda tentativa para construir o sistema, que agora se chamaria Sentinela, começou em 2006. O problema é que mais uma vez o projeto seguiria o ciclo de desenvolvimento “Cascata” e, logo no começo, já começaram a surgir problemas. 

 Resumindo: das quatro fases previstas, apenas duas foram “entregues” e, ainda assim, os resultados apresentados foram tão desacreditados que nem sequer entraram em uso assiduamente.

 Em 2010, o projeto foi interrompido novamente, mas o que parecia o fim se mostrou um belo recomeço. Isso porque uma nova liderança tomou a frente do desenvolvimento e se mostrou disposta a usar uma nova abordagem para o gerenciamento: o modelo ágil Scrum.

Dez anos de trabalho feitos em doze meses 

 Com a nova liderança a Locked Martin, empresa responsável pelos primeiros projetos, foi dispensada e a nova equipe envolvida foi reduzida de 400 para 45 pessoas.  Antes do Scrum, 90% dos R$ 425 milhões, destinados a construção do Sentinela, já haviam sido gastos, mas a agência acreditava que, mesmo com um orçamento limitado, fosse possível finalizar o projeto em apenas 12 meses.

 E assim foi: o modelo incremental entregava novas funcionalidades a cada sprint e o projeto foi desenhado pelo próprio CTO do FBI. Ao final de cada etapa, a equipe responsável apresentava o que havia sido feito para representantes de diferentes áreas e isso ajudou a aumentar a confiança de toda a organização no projeto. 

 O objetivo era atender todos os requisitos e, em 2011, o Sentinela estava pronto, com cerca de 5% do orçamento total e em apenas um ano! Em 2012 o software foi ativado em todas as sedes do FBI e até hoje ele é utilizado.

O último suspiro do Waterfall, será? 

 Este caso de sucesso que acabei de contar sempre é usado para defender a eficiência do ágil em comparação ao método cascata. De fato, as diferenças são gritantes, mas não podemos dizer que o waterfall não tenha seu valor.

 Todos os modelos podem ter pontos pontos fortes e fracos, o segredo é aplicá-los no lugar certo. O scrum, por exemplo, é definido por seus criadores, Jeff Sutherland e Ken Schwaber, como um framework leve e simples de entender, porém difícil de dominar. Essa dificuldade vem do fato do Scrum ser indicado para projetos complexos, onde os requisitos nem sempre são totalmente conhecidos.

Já se você conhece todos os requisitos para a construção de uma solução, o método em cascata ainda pode ser  uma opção aceitável. Imagine um prédio ou uma aeronave, esses tipos de projeto acatam perfeitamente a abordagem linear do Waterfall, porque os requisitos não mudam. O cliente não vai pagar para demolir um edifício e construí-lo de novo porque quer mudar algo no projeto. No entanto é preciso entender que na construção civil, por exemplo, as técnicas foram desenvolvidas durante os anos, por isso é possível ter mais previsibilidade e um conhecimento mais consistente dos requisitos.

 Isso me leva a acreditar que a pergunta certa é: Quanto tempo você tem? Se você trabalha com desenvolvimento de software, imagino que não muito. Hoje em dia ninguém está disposto a se enfiar em projetos longos, caros e complexos, pois esse é o tipo de iniciativa que tende a começar e nunca terminar.

Waterfall vs ágil

 No contexto moderno, onde as empresas têm pressa em inovar e precisam criar soluções rápidas e eficientes, o ágil, ao meu ver, é imbatível. O conjunto de frameworks, os princípios e valores, as características… tudo coopera para uma aceleração de resultados muito importante para a maioria dos negócios.

 Isso, no entanto, não quer dizer que todos os projetos em waterfall estão fadados ao fracasso, cabe aí uma dose de bom senso para saber quando utilizar cada um. 

 O mesmo conselho eu dou aos que querem aplicar ágil, mas se limitam ao Scrum: conheça outros métodos também, provavelmente você não será especialista em todos eles, mas pelo menos vai conhecer diferentes alternativas. Saber usar a metodologia certa no momento certo, como vimos aqui, pode gerar uma economia absurda de tempo e dinheiro.

Espero que tenha gostado deste conteúdo! Deixe sua opinião nos comentários e, se quiser saber mais sobre modelos ágeis, segue abaixo uma recomendação de leitura:

Scrumban: Quando é hora de evoluir o Scrum com o Kanban?

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